DEFESA DO SERVIÇO SOCIAL CRÍTICO E A OFENSIVA NEOLIBERAL

Em relação ao exponencial crescimento do neoliberalismo, eu separei algumas citações do livro "O Serviço Social brasileiro na entrada do século XXI: considerações sobre o trabalho profissional" (2016), do autor Carlos Antonio de Souza Moraes, que explicitam os impactos do neoliberalismo no séc. XXI e no próprio Serviço Social, para que depois possa ser feita uma reflexão do porquê devemos defender que o Serviço Social seja crítico e não caia nos contos despolitizados do neoliberalismo.

 1. Citações sobre os impactos do Neoliberalismo no séc. XXI

“[...], têm contribuído para perpetuar a dependência externa e reproduzir a estrutural desigualdade social, em um contexto de insegurança no trabalho (através de contratos temporários e/ou com expedientes parciais, condições e relações de trabalho precarizadas e fragilidade dos vínculos de trabalho), ‘de ruptura entre trabalho e proteção social’ (Yazbek, 2014), baixos salários, submissão às normas do mercado e metas quantitativas [...]” (p. 588)

“[...] aprofunda a privatização interna das universidades públicas e amplia a privatização da educação superior presencial e a distância (Dahmer, 2008), permitindo, assim, a intensificação da desqualificação da formação profissional, sob a aparência de ampliação do acesso ao ensino superior (Lima, 2008).” (p. 589)

“[...] aumento do desemprego, corte dos gastos públicos, articulação ofensiva entre setor público e privado, transferindo complexos do Estado para a iniciativa privada e instituindo processos ideopolíticos que têm reconfigurado a forma de pensar e agir dos sujeitos, através de sobrevalorização do ter em relação ao ser [...] Assim, o Estado gestor, síntese das reformas neoliberais, altera veementemente a ideia de proteção social ampla e muda de forma significativa o cenário em que se encontra esse sujeito, transformando-o e alinhando-o aos interesses do capital (Martins, 2015, p. 19).” (p.589)

“Há um aumento da contratação de trabalhadores por projetos temporários, desregulamentação do trabalho formal, rebaixamentos salariais, perdas de direitos trabalhistas, que geram, nas palavras de Iamamoto (2014, p. 633; grifos da autora), a ‘insegurança da vida dos profissionais’ em virtude das dificuldades de emprego ou trabalho de largo prazo e a perda de direitos, implicando diretamente sua sobrevivência material e social.” (p. 591) 

2. Citações sobre os impactos do Neoliberalismo no Serviço Social

"Além disso, (os influxos) reconfiguram o mercado de trabalho, bem como as condições de inserção, permanência, relações, intensidade do trabalho, perfil e postura profissional, além de formular e formatar as políticas sociais em que esses e outros profissionais atuam, germinando novas demandas institucionais, ‘limitando’ as respostas profissionais aos usuários e predeterminando as demandas que os usuários apresentarão e que poderão ter respostas no espaço institucional específico de trabalho do assistente social" (p.590)

“[...] no contexto atual têm sido ameaçadas as possibilidades de aprofundamento do conhecimento, da tentativa de romper com o absolutamente visível, da pesquisa da realidade social, da intercessão entre a dimensão investigativa e interventiva, do aprofundamento das informações traduzidas na imediaticidade da realidade, da sistematização e estudo dessas informações e do planejamento crítico do trabalho profissional. [...] Tal realidade tem capturado o sêmen do pensamento crítico dos assistentes sociais, limitando-os ao trato da realidade aparente, restrita ao senso comum e desprovida de criticidade na leitura, no diálogo e na intervenção profissional. (p.592)

“[...] relativiza cada vez mais sua autonomia e ameaça a dimensão intelectiva do trabalho profissional na perspectiva do projeto ético-político do Serviço Social atual, o que produz drásticas implicações à dimensão teórica, metodológica, política e técnica do trabalho profissional.” (p. 594)

“[...] o Serviço Social, determinado por essa realidade e insistente na defesa e crítica de seu projeto profissional, vivencia fluxos de construção e avanços, com a grande expressão da redução da carga horária de trabalho semanal para trinta horas, e influxos de desconstrução vinculados à ‘deformação’ profissional, bem como a precarização das condições e das relações de trabalho, o que tem repercutido diretamente no perfil do assistente social do novo século.” (p. 595)

“[...] contribui para a despolitização dos assistentes sociais, que, na tentativa de resultados imediatos, tentam abrandar a tensão posta na situação, contribuindo para que haja certa conformação do usuário ao acessar seu direito ou ter essa possibilidade (Guerra, 2004; Gomes, 2013).” (p. 595)

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Analisando as citações acima, é possível perceber como o neoliberalismo impacta negativamente a vida dos trabalhadores - incluindo os assistentes sociais -, o neoliberalismo reforça as desigualdades sociais e de renda, prioriza o lucro acima da vida e da dignidade do povo, adoece e aliena a população, sucateia as políticas públicas e o acesso à elas, precariza a educação e a saúde, entre outras atrocidades contra a dignidade humana, em prol do lucro.

Mas como resistir a essa ofensiva neoliberal como estudantes/profissionais de Serviço Social? 

A resposta não é exata, mas o caminho é nos mantermos críticos e lutarmos coletivamente junto as entidades e movimentos da categoria e organizações políticas com os mesmos princípios e objetivos.  O neoliberalismo, o capitalismo, são os geradores da desigualdade e devem ser combatidos. Para isso, precisamos defender uma formação crítica no nosso curso, temos visto profissionais extremamente desconectados da realidade, flertando com o liberalismo e políticas que são totalmente contrárias ao próprio Código de Ética, ferindo o caráter e o projeto ético-político da profissão, repetindo práticas e pensamentos ultrapassados que culpabilizam e moralizam os sujeitos e disseminando ideias contrárias ao bem-estar da população. É por isso que essa pauta é tão importante e urgente de ser debatida, não podemos subestimar a capacidade do capital de nos sabotar e nos tirar tudo aquilo que nos é precioso: nossos direitos, nossa saúde, educação, moral e até mesmo nossas vidas. É preciso debater com nossos colegas para que a gente cresça e resista juntos.

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