As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo - Capítulo 2.4 - Assistente Social como Trabalhador Assalariado
O capítulo 2.4 do texto "As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo" de Marilda Villela Iamamoto, trata do assistente social como trabalhador assalariado e é sobre isso que vamos falar no post de hoje!
"O Serviço Social é regulamentado como uma profissão liberal, dispondo de estatutos legais e éticos que atribuem uma autonomia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa e à condução do exercício profissional. Ao mesmo tempo, o exercício da profissão se realiza mediante um contrato de trabalho com organismos empregadores - públicos ou privados-, em que o assistente social afirma-se como trabalhador assalariado. Estabelece-se uma tensão entre autonomia profissional e condição assalariada." (p. 21).
Os assistentes sociais dependem da venda da sua força de trabalho para sua subsistência, sendo assim, estão na condição de trabalhadores assalariados. A profissão, num geral, tem sofrido com a precarização, incluindo a precarização dos vínculos trabalhistas. As instituições possuem exigências, prazos e rotinas para que se desenvolvam as atividades profissionais, porém, essas condições nem sempre são realistas, forçando o assistente social a agir com imediaticidade, sem ser criativo, crítico e propositivo, precarizando também o atendimento ao usuário. Além de lidar com as relações no trabalho, os profissionais muitas vezes precisam trabalhar com migalhas, afinal, o sucateamento das políticas públicas não para de aumentar, são cortados diversos recursos, porém as demandas dos usuários não param de crescer e precisam ser atendidas.
“Inseridos e acorrentados a esses processos por vários momentos, o trabalho do assistente social passa a expressar uma forma modernizada do antigo conservadorismo profissional, através de ampliação do mercado de trabalho, conquista de novas funções e cargos no interior das instituições. Por outro lado e como fruto, dessa mesma realidade, isso ocorre por meio da redução de sua autonomia e de sua submissão aos ditames institucionais.” (O Serviço Social brasileiro na entrada do séc. XXI, p. 598)
Como traz Iamamoto, os assistentes sociais também participam do processo de produção e redistribuição de riqueza social e nas relações de poder político e ideológico. Nas empresas por exemplo, reproduz a força de trabalho que gera a riqueza e na esfera estatal participa do processo de redistribuição da mais valia, via fundo público. Seu trabalho se inscreve no campo da defesa e/ou realização dos direitos sociais e sua atuação pode contribuir para a partilha e democratização do poder ou para manter as estruturas já existentes e as relações de poder. É uma grande responsabilidade e portanto ter nossa autonomia limitada a ponto de afetar a direção social que atribuímos ao exercício profissional se torna ainda mais problemático.
"Embora o assistente social disponha de uma relativa autonomia na sua condução de seu trabalho – o que lhe permite atribuir uma direção social ao exercício profissional - os organismos empregadores também interferem no estabelecimento de metas a atingir. Detêm poder para normatizar as atribuições e competências específicas requeridas de seus funcionários, definem as relações de trabalho e as condições de sua realização." (p. 22)
Sendo assim, é importante que o assistente social se coloque no papel de sujeito e não se veja apenas como um instrumento da instituição para a qual trabalha. É importante perceber que a profissão tem potencial transformador - sem sermos messiânicos obviamente - e portanto não devemos nos manter em uma zona de conforto. Precisamos nos manter críticos, fazer alianças com nossos colegas dentro das instituições, manter contato com nossas entidades representativas e principalmente, não esquecermos do nosso projeto ético-político, mesmo estando inseridos nas contradições do sistema capitalista e na condição de trabalhadores assalariados.
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